terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Perspectivas no Movimento Cristão Mundial - A Teologia de Lausanne, Evangelho e Cultura - Parte dois.

5. PROTESTANTISMO E CULTURA BRASILEIRA: DESAFIOS
Temos de reconhecer o fato de que, depois de cinco séculos, e com o estágio de desenvolvimento em que nos encontramos, com toda riqueza cultural, uma ampla parcela do nosso povo — inclusive das elites — não tem assumido a sua identidade, compartilhando-a, e continuamos a ser uma nação de deslumbrados, como procurei apontar em recente trabalho denominado Nós e eles — a construção da brasilidade cristã.

Assinalo que o nosso primeiro modelo foi, obviamente, Portugal, quando algo somente tinha valor se viesse da Metrópole, do Reino: A pimenta... do reino; o queijo... do reino! Com a vinda da família real e com o Tratado de amizade, navegação e comércio, entramos na esfera de influência cultural britânica: batata... inglesa; casimira... inglesa. Em plenos trópicos, usávamos a última moda... de Londres! Com a República, passamos a nos encantar com a França. É a vez do pão francês, dos Colégios Sacré Coer ou Sion, da etiqueta, e do suspiro de um dos nossos intelectuais: “Ver Paris, e depois morrer!”. Nos anos 30, com o nazismo e o fascismo, fomos influenciados pelo autoritarismo alemão e italiano, e pelo racismo, quando nos considerávamos, mestiços, como uma “sub-raça”.
Após a Segunda Guerra Mundial, com Hollywood e a Coca-Cola, descobrimos a América, e a influência cultural norte-americana foi se hipertrofiando e reduzindo as anteriores, tendo seu apogeu no período do regime militar, com o Acordo Cultural MEC-USAID, e com a antológica frase do nosso então ministro das relações exteriores Juracy Magalhães“O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Enfim, expressões como a do Conde Afonso Celso: “Porque me ufano de ser brasileiro”, ou a do poeta “Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste”, fica apenas para dia de jogo da Copa do Mundo de futebol...
Como protestantes, temos, desde o início de nossas missões no Brasil, estado às voltas com o dilema apresentado em um texto clássico do teólogo peruano, Samuel Escobar, um dos fundadores e dirigentes da Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL): “O evangelho e a roupagem cultural anglo-saxã”. Creio que episódios como a criação da Igreja Evangélica Brasileira, ainda no século XIX, da Igreja Presbiteriana Independente (IPI) e do Movimento Radical Batista, nas primeiras décadas do século XX, a atuação da Confederação Evangélica do Brasil (CEB), de 1934 a 1964, e, posteriormente, a atuação da FTL sinalizaram uma preocupação com a aculturação e a inculturação, para o desafio de assumir a nossa história e a nossa cultura, a nossa identidade continental, nacional e regional, na encarnação da missão do Reino.
Mas, em tempos da teologia da batalha espiritual e dos produtos gospel, ouvi, no ano passado, em um congresso sobre avivamento, de um pastor batista renovado independente, a seguinte pérola: “Como a cultura ibérica é católica romana, e, em decorrência, idólatra; e como as culturas afro e ameríndias são macumbeiras, não há nada a se aproveitar na cultura nacional, e, como tal, o protestantismo brasileiro tem que se construir pela importação das culturas “evangélicas” anglo-saxã, germânica e escandinava”.
Ao que parece, os movimentos de busca de um protestantismo com caráter verde-e-amarelo, um protestantismo com rosto brasileiro, que motivou intelectuais e líderes eclesiásticos no passado, ficaram no passado, sendo pouco conhecidos das gerações atuais. Há uma passividade, ou resignação, como se a importação indiscriminada do que se produz nos Estados Unidos da América fosse algo inevitável, ou da natureza das coisas, ou o melhor para nós.
De lá nos chegam os mórmons e as testemunhas de Jeová, o fundamentalismo e o liberalismo, a teologia da prosperidade e a teologia da batalha espiritual, o movimento apostólico e os movimentos centrados em personalidades fortes; de lá nos chegam ondas sucessivas de métodos e macetes, que aqui devem ser adotados acriticamente por suas franquias, segundo a máxima: “Nada se cria, tudo se copia”.
Há uma certa similitude entre o mundo da época apostólica, sob o Império de Roma e a cultura greco-romana e o nosso tempo globalizado com a cultura anglo-saxã. Os americanizados do presente, como os saduceus do passado, adotam o modo de pensar da cultura forânea hegemônica, desvalorizam uma identidade nacional, falam com sotaque.
No louvor, apenas trocamos os ritmos forâneos antigos pelos ritmos forâneos mais recentes, com o agravante de um visível decréscimo em seu conteúdo teológico, sem falar no vernáculo.
Toda essa conjuntura de importação cultural tende a dificultar a construção desse almejado protestantismo firmado nas raízes do Brasil, em sua história, sua literatura, sua arte, e inibe a criatividade de um pensamento evangélico autóctone.
Creio que se pode parafrasear o poeta: “As aves que aqui (no Brasil) gorjeiam; gorjeiam como lá (nos Estados Unidos)”.
E me pergunto: haverá “bancada brasileira” diante do Cordeiro, ou o louvaremos com sotaque?
6. EVANGELICALISMO, CULTURA E GLOBALIZAÇÃO
A partir da Idade Moderna, com o Renascimento, a Reforma, os Descobrimentos e o estabelecimento de potências imperiais, o mundo tem vivido o fenômeno geo-político-cultural denominado de eurocentrismo: a Europa como centro. Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra forjaram os seus impérios, com suas armas e sua cultura, inclusive em sua dimensão religiosa. A Grã-Bretanha — tendo como apogeu os meados do século XIX e o reinado da rainha Vitória — construiu o maior império de toda a História, incluindo um quarto do território e um quinto da população mundial. Essa fase eurocêntrica vai do século XVI à segunda metade do século XX, e o movimento de descolonização. Ocorre que, pela primeira vez na História, um império é substituído por outro da mesma cultura e da mesma língua: a Grã-Bretanha pelos Estados Unidos da América.

Este emerge no pós-Segunda Guerra Mundial, com a nova fórmula chamada de neocolonialismo. Embora tenha patrocinado tratados regionais (como a OTAN) durante o período da chamada Guerra Fria, com a União Soviética, e mantenha hoje cerca de 400 bases e outros estabelecimentos militares em todos os continentes, não há, por parte dos Estados Unidos, a não ser em caráter emergencial e transitório, uma ocupação militar, mas predomina o chamado “soft power”, que é o controle pela via econômica, financeira e cultural. Diga-se de passagem que as histórias dos Estados Unidos e da Rússia, iniciando, no caso do primeiro, com as 13 colônias do Atlântico, e, no caso da segunda, com Grão-Ducado de Moscou, são semelhantes em seu expansionismo territorial: o primeiro chegando ao Pacífico e o segundo a Sibéria, ambos se encontrando no Alasca.
A Guerra Fria já foi comparada às Guerras Púnicas entre Roma e Cartago. O fim das Guerras Púnicas trouxe a pax romana; o fim da Guerra Fria, a pax americana. Há hoje, sem dúvida, uma ordem internacional marcada pelo caráter geopolítico e militar monopolar com os Estados Unidos como única potência, e pelo caráter geoeconômico oligopolista com o G-8. A expansão do Islã, movido a petrodólares, e o crescimento espantoso da China abrem uma interrogação para o futuro. Enquanto a Rússia tenta se afirmar como potência média, apoiada pelo pan-eslavismo e a Igreja Ortodoxa, registra-se o fato novo dos BRICS, ou países emergentes (onde se inclui o Brasil), dois deles são ex-colônias britânicas: a Índia e a África do Sul.
Esse neocolonialismo norte-americano e a realidade de uma ordem internacional que facilita a circulação de bens e capitais, e dificulta a circulação de pessoas, de forma assimétrica política, militar e econômica — em que as ideias não são tampouco frutos de um intercâmbio simétrico, mas do unilateralismo de um centro para uma periferia —, têm levado pensadores franceses a preferir o uso da expressão mundialização no lugar de globalização. Mundialização da cultura norte-americana.
O predomínio de uma cultura — particularmente de um idioma — em um dado momento histórico não se dá porque essa cultura seja superior, mas porque ela é respaldada por uma superioridade econômica e militar. Já se tem afirmado, porém, que a História é um cemitério de impérios e um museu de imperadores. A toda ascensão, se segue um apogeu, e, depois, um declínio. Por outro lado, em um processo de hegemonia, os impérios procuram convencer que os seus interesses e os de suas colônias são coincidentes (nada mais longe da verdade), e procuram cooptar cérebros das colônias, para que pensem os seus pensamentos, e não os dos seus povos nativos.
Asfixiado pelo eurocentrismo, primeiro, e pelo americanismo, depois, os povos periféricos reagem com o que sociólogos denominam de “recorrência cultural”: o familismo, o tribalismo, o nacionalismo, o regionalismo, tentando preservar as suas identidades.
Se a expansão do cristianismo católico romano e protestante veio na esteira do colonialismo e do neocolonialismo (a ortodoxia oriental tinha raízes fora desses centros), o espírito do Congresso de Lausanne (e dos congressos regionais decorrentes), no tocante ao empreendimento missionário, procurou descolar o cristianismo dessa realidade geopolítica, quando propôs: “O Evangelho de todo o mundo para todo o mundo”, ou seja, no lugar de um unilateralismo, um multilateralismo.
Como fatos novos, são dignos de registro, para o século XXI: a revitalização; a radicalização e a expansão das antigas religiões, particularmente do Islã; o declínio do cristianismo na Europa Ocidental e na América do Norte, frutos do secularismo externo e do liberalismo interno; e o crescimento vertiginoso do cristianismo no hemisfério sul, tão bem analisado por Phillip Jenkins em sua obra A próxima cristandade.
O espaço euro-ocidental, nesses tempos tidos como pós-modernos, vem construindo uma cultura pós-cristã, e é essa cultura pós-cristã que vem sendo exportada, e com a qual nós, brasileiros e evangélicos, temos de lidar.
O desafio externo vem em forma do secularismo, com uma compreensão peculiar do que seja separação entre Igreja e Estado, mas que, no fundo, promove uma agenda antirreligiosa, e, particularmente, anticristã, no sentido de que a religião deveria ser algo radicalmente privado, em termos de pessoas, lares e templos, sem voz na esfera pública. Uma religião monoteísta de revelação seria algo tido como negativo, diante da proposta multiculturalista e relativista. Os secularistas travam uma batalha no que diz respeito aos símbolos, advogando a sua erradicação dos espaços públicos, onde “ofenderiam” os demais. Isso inclui também a substituição da demarcação histórica do “antes” e “depois de Cristo” pelo “antes” e “depois da era comum”, e a retirada de tábuas da lei, crucifixos, árvores de Natal. A saudação Feliz Natal deveria ser substituída por Boas Festas, e deveriam inexistir os feriados dos dias santificados.
O alvo é eliminar a visibilidade simbólica da fé (particularmente da fé cristã) por sua forte mensagem silenciosa. E aqui muitos evangélicos, que cultivam uma atitude iconoclasta, sempre desvalorizando os símbolos e confundindo arte sacra com idolatria, bem como os que advogam um estilo despojado ou “esportivo” da religiosidade, terminam por serem, na prática, inocentes úteis, companheiros de viagem, ou colaboradores involuntários e inconscientes do processo secularista, fazendo gol contra. Os símbolos estão no centro da cultura, e um conflito cultural é, em muito, um conflito de símbolos.
O fim de utopias como o socialismo e o anarquismo, especialmente em um contexto de passado puritano, deu lugar a uma manifestação original de um moralismo de esquerda, em termos da chatíssima ideologia do “politicamente correto”.
Um segundo desafio externo, na pós-modernidade, é a substituição da via única moderna da razão para se chegar à verdade, por uma crença que não há nenhuma via e nenhuma verdade, e que o único absoluto é o relativo.
Na esteira do secularismo e do relativismo, temos nos confrontado com a agenda GLSTB (Gays & lésbicas & simpatizantes & transgêneros e bissexuais), quando nós que afirmamos a dignidade de toda pessoa humana e os direitos civis de todos os cidadãos estamos sendo pinchados como homofóbicos, e ameaçados de prisão, por não concordarmos com a normalidade e a inevitabilidade do homoerotismo, em uma verdadeira expressão de heterofobia. Essa minoria trava a batalha cultural no âmbito das artes e da comunicação e, nos órgãos de governo, utilizam argumentos pretensamente científicos, e em forma de um rolo compressor.
Isso implica, como sempre, a necessidade de apologistas.
O desafio interno vem, principalmente, em forma do liberalismo revisionista, que incorpora elementos do secularismo e do relativismo no interior do espaço eclesiástico, negando a autoridade revelacional das Sagradas Escrituras, a singularidade de Cristo na salvação e a singularidade da Igreja como agência de salvação, bem como toda verdade doutrinária ou comportamental.
Isso implica, como sempre, a necessidade de polemistas.
Se a mundialização da cultura norte-americana nos vem tanto externamente pelo secularismo, como internamente pelo liberalismo, revela-se inadequada nossa atitude de importar, também de setores da cultura norte-americana, respostas a esses desafios, em termos de fundamentalismo ou de um sem número de igrejas-paradigmas, modelos e métodos.
O evangelicalismo precisa aprofundar e atualizar o conhecimento de sua história e dos seus postulados, enquanto, sem xenofobia, se recusa a reter o bem de onde vier; ele precisa se fortalecer nas raízes do Brasil, e precisa de discernimento, erudição e coragem para a tarefa da polêmica interna e da apologia externa, se é que queremos desenvolver um evangelicalismo que implique uma contribuição para a nossa cultura, e da nossa cultura para o palco do entrechoque da cultura hegemônica norte-americana com um novo mundo que se avizinha.
7. CULTURA: CONFLITO HISTÓRICO E ESPIRITUAL
O Mandato Cultural foi entregue por Deus à humanidade na Ordem da Criação, a esta cabendo o procriar e povoar, o criar, o dominar a terra (Gn 1.28-30). O Mandato Cultural é uma ordem, um dever e uma honra. Os traços materiais e imateriais da cultura atestam que somos continuadores da obra da criação. Hoje, contudo, não vivemos essa realidade original. O pecado nos expulsou do Paraíso para a História, da eternidade para o tempo, da vida para a morte, da perfeição para a imperfeição. E assim permaneceremos até a Ordem da Restauração, com o novo céu e a nova terra. Entre o Paraíso e a Nova Jerusalém vamos construindo, desconstruindo e reconstruindo culturas e civilizações marcadas por uma natureza humana caída, marcadas pelo pecado.

Daí o equívoco de se pretender santificar ou demonizar in totum essa ou aquela cultura. A teologia de Lausanne nos chama a atenção para o fato de que, em cada cultura, encontramos manifestações que atestam a imagem de Deus em nós mantida; outros aspectos que são adiáforos, indiferentes ou neutros; outros que atestam a marca do pecado, e, ainda, outros que sinalizam uma clara presença do demoníaco. À luz das Sagradas Escrituras, iluminados pelo Espírito Santo, e instruídos pelo consenso histórico dos fiéis, somos chamados a desenvolver um senso crítico em relação às culturas, tanto as do passado quanto as do presente, tanto as dos outros quanto a nossa. Os cristãos não podem aderir, embarcar acriticamente nas ondas culturais do seu tempo, mas discerni-las, ora participando criativamente no fomento aos valores do Reino de Deus, como sal e luz — o que já foi denominado de “evangelização da cultura” — ora criticando, confrontando e resistindo ao espírito do século, quando for o caso.
Por outro lado, temos consciência da existência de um conflito cósmico, um conflito de potestades do bem e do mal nas regiões celestes, e que há uma relação entre as potestades espirituais da maldade e os poderes materiais da maldade. O equívoco da teologia da batalha espiritual é nos deslocar para o combate aos anjos caídos, deixando ociosos os anjos bons e a vontade dos homens maus. O liberalismo não combate demônios por não crer neles, e tende a aderir às ondas seculares por afirmar a bondade natural, ou não crer no pecado original, ou no caráter normativo histórico e universal da Revelação.
O conflito cósmico entre o bem e o mal se projeta na História, ou, para parafrasear Agostinho de Hipona, a Cidade do Homem reflete a luta entre a Cidade de Deus e a Cidade do Diabo. A inserção dos cristãos na cultura pressupõe tanto o conhecimento, quanto o discernimento e a intercessão. Quando isso não ocorre, estamos sujeitos a cometer graves equívocos. Como aplicar à cultura, na concretude da História, a parte que nos cabe na oração: “...seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu...”. No céu, Deus garante; na terra a tarefa é nossa.
Creio que a nossa parte nessa oração não se realiza pelo isolamento cultural, pelo aprisionamento a culturas do passado, pela criação de guetos de contracultura, ou, no outro extremo, pela adesão acrítica. Vivemos uma tensão criativa com a cultura, e a contracultura cristã se faz por dentro e não por fora ou por cima da cultura.
Que racionalização, que acomodação, ou que vaidade intelectual justificaria a adesão de cristãos a agenda secularista ou a agenda GLSTB? É claro que não há riscos de martírio quando não se confronta com o espírito do século, e com o espírito do príncipe do século.
Se a academia, as artes, a mídia, os instrumentos de política pública ou o folclore são palcos do fazer cultural e da luta espiritual inerente, é para aí que, na diversidade das nossas vocações e dons, somos enviados como missionários do Reino, onde conheceremos vitórias e derrotas, em um processo contínuo pelas gerações. Como evangélicos, essa missão inclui sempre a proclamação de Jesus Cristo, como Senhor, e o chamamento à reconciliação de toda a Criação com o Pai, por meio dele.
Por outro lado, creio que não nascemos em um determinado tempo e lugar, em uma determinada cultura por acaso, mas, sim, como um ato da Providência. Se vivemos a realidade da mundialização, também vivemos a realidade de ser brasileiro e nordestino na primeira década do século vinte e um. E estamos nesse tempo-espaço-cultura como indivíduos cristãos, bem como integrantes da comunidade cristã, o Povo da Segunda Aliança, a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo. Como cristãos não temos outra opção senão o resgate do mandato cultural. Como evangélicos, somos chamados a encarnar, de forma santificante, em nossa cultura, e a responder, como embaixadores, ao que a mundialização nos propõe.
Esperamos, por fim, tendo cumprido a nossa missão cultural, integrarmos a delegação dos salvos brasileiros que integrarão a multidão de vestes brancas, que estará diante do Cordeiro, dentre aqueles, em suas diferenciações, “...de todas as nações, tribos, povos e línguas...” (Ap 7.9).

Dom Robinson Cavalcanti

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Perspectivas no Movimento Cristão Mundial - A Teologia de Lausanne, Evangelho e Cultura - Parte um.

O CONGRESSO DE LAUSANNE         


Desde o episódio registrado no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, os Concílios, Sínodos, Convenções e Congressos, reunindo a liderança da Igreja para deliberar sobre assuntos relevantes para o seu tempo, têm sido loci privilegiados da ação do Espírito Santo, a orientar a caminhada do Povo da Segunda Aliança na História. Na Idade Contemporânea, um desses encontros memoráveis foi, sem dúvida, o Congresso Internacional para a Evangelização Mundial, que ocorreu na cidade de Lausanne, na Suíça de 16 a 25 de julho de 1974, com cerca de 4.000 delegados, observadores, imprensa e funcionários, oriundos de 151 países, dos mais variados ramos reformados, sob o lema: “Que a Terra ouça a voz de Deus”. Uma grande revista de circulação internacional denominou o Congresso de Lausanne de “O Vaticano II dos Evangélicos”.

Lausanne, mais do que um evento, foi um processo, que teve início com o Congresso Internacional de Evangelismo, em Berlim, 1966, com os Congressos Regionais, como o CLADE I, em Bogotá, Colômbia, 1969 (de onde saiu a ideia da fundação da Fraternidade Teológica Latino-Americana — FTL), e que prosseguiria com o trabalho da Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial (LCWE). Lausanne foi o grande momento do Evangelicalismo, que traça as suas origens em John Wycliffe, na pré-reforma, se organiza na Inglaterra em torno de 1850, e passa a ocupar um lugar especial no contexto norte-americano, com aquelas lideranças insatisfeitas com a polarização entre fundamentalismo e liberalismo nas primeiras décadas do século XX, e que, depois da Segunda Guerra Mundial, vão criar a Associação Nacional de Evangélicos e a revista Christianity Today. Evangelicalismo como movimento credal, confessional, herdeiro de elementos da Reforma, do Puritanismo, do Pietismo, do Movimento Missionário do século XIX, com uma ênfase particular nas missões e na experiência de conversão.

O Congresso de Lausanne foi marcado pela riqueza de seu conteúdo, com exposições bíblicas, estudos bíblicos, análises de conjuntura, reflexões teológicas, estudos regionais e elaboração de estratégias missionárias, e uma riqueza de nomes (cerca de 250 oradores e painelistas), de Billy Graham a John Stott, de René Padilla, Samuel Escobar e Orlando Costas a Samuel Kamaleson, Saphir Athial, Gotrfried Osei-Mensah, Festo Kevengere, de Harold Lindsey, Ralph Winter e Donald McGavran a Luis Palau e Francis Shaeffer, para nominar apenas alguns. Do Brasil, falaram o pastor Nilson do Amaral Fanini e o autor destas linhas.

O Congresso resultou em um maior sentido de unidade entre os evangélicos, em um renovado compromisso com a missão mundial da Igreja e uma internacionalização do envio e do recebimento missionário.

2. A TEOLOGIA DE LAUSANNE


Um intenso trabalho antes e durante o Congresso resultou em um documento denominado de Pacto de Lausanne. Este passou por um intenso processo de participação em sua redação, subscrito pela maioria. Historiadores têm apontado o Pacto de Lausanne como um dos três documentos doutrinários mais importantes da História da Igreja, ao lado do Credo dos Apóstolos e da Confissão de Westminster. O reverendo anglicano John Stott presidiu a comissão de redação. O Pacto consta de uma Introdução e dos seguintes tópicos:

1. O propósito de Deus;

2. A autoridade e o poder da Bíblia;
3. A unicidade e a universalidade de Cristo;

4. A natureza da evangelização;

5. A responsabilidade social cristã;

6. A Igreja e a evangelização;

7. Cooperação na evangelização;

8. Esforço conjugado das Igrejas na evangelização;

9. Urgência na tarefa evangelística;

10. Evangelização e cultura. Educação e liderança;

11. Conflito espiritual;

12. Liberdade e perseguição;

13. O poder do Espírito Santo;

14. O retorno de Cristo, e uma 
15. Conclusão;

A Teologia de Lausanne, com sua abertura à contribuição das Ciências Sociais, e com a busca de resposta a indagações do contexto, é a teologia do Evangelicalismo, também chamada em círculos norte-americanos de “neo-evangelicalismo”, Evangelicalismo holístico ou Missão Integral da Igreja, e em sua vertente mais avançada do Terceiro Mundo de “Evangelicalismo progressista”. Daí, dois tópicos tiveram a maior importância no Pacto de Lausanne: o da Responsabilidade Social e o da Cultura. No primeiro, se afirma:
 
Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão... a salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta. 
No período de 1974 a 1982, muitas vezes em parceria com a Comissão Teológica da Aliança Evangélica Mundial (WEF), a Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial promoveu um grande número de reuniões temáticas, com fecunda elaboração teológica. Destacam-se entre elas os encontros sobre a Responsabilidade Social da Igreja, sobre o Estilo de Vida Simples como Opção Cristã e sobre o Evangelho e a Cultura. Conselhos Nacionais Evangélicos e entidades regionais de pensadores, como a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL) e os seus sucessivos Congressos Latino-Americanos de Evangelização (CLADE’s), Encontros e Seminários (A Bíblia na América Latina, o Reino de Deus na América Latina, Os Evangélicos e a Política, etc.), e os seus programas de publicações, marcaram uma época de ouro no evangelicalismo mundial, mesmo sob o ataque dos extremos fundamentalista e liberal e os desafios dos movimentos seculares.

3. LAUSANNE E A CULTURA

O Pacto de Lausanne reconhece a importância da variável cultural, mas afirma que:
A cultura deve ser sempre julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte da cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas.
Em janeiro de 1978, tendo como moderador o reverendo John Stott, nos reunimos, 33 teólogos, antropólogos, linguistas, missionários e pastores, em Willowbank, nas Ilhas Bermudas, para uma consulta sobre “O Evangelho e a Cultura”. Ali, além da publicação dos textos apresentados, produzimos um documento final denominado de “O Relatório de Willowbank”, de ampla circulação.
O texto trata sobre os seguintes itens: 

1. Base bíblica da cultura; 

2. Definição de cultura;

3. Cultura na revelação bíblica. A natureza da inspiração bíblica. Forma e significado. A natureza normativa da Escritura. O condicionamento cultural da Escritura. A obra contínua do Espírito Santo;

4. Compreendendo a Palavra de Deus Hoje. Abordagens tradicionais. Abordagem contextual. A comunidade do aprendizado. Os silêncios da Escritura;

5. Conteúdo e comunicação do Evangelho. A Bíblia e o Evangelho. O Cerne do Evangelho. Barreiras culturais à comunicação do Evangelho. Sensibilidade cultural na comunicação do Evangelho. Testemunho cristão no Mundo Islâmico. Expectativas de resultados;

6. Procuram-se: mensageiros humildes do Evangelho. Análise da humildade missionária. A encarnação como modelo do testemunho cristão;

7. Conversão e cultura. A natureza radical da conversão. O senhorio de Jesus Cristo. O convertido e sua cultura. O confronto de poder. Conversões individuais e em grupo. A conversão é súbita ou gradual?

8. Igreja e cultura. Abordagens antigas e tradicionais. Modelo de equivalência dinâmica. A liberdade da Igreja. A missão e as estruturas de poder. O risco do provincianismo. O risco do sincretismo. A influência da Igreja sobre a cultura;

9. Cultura ética cristã e estilo de vida. Cristocentrismo e semelhança a Cristo. Padrões morais e práticas culturais. O processo de mudança cultural.
Em sua conclusão, o “Relatório de Willowbank” afirma: 

Nossa Consulta não deixou nenhuma dúvida quanto à penetrante importância da cultura. A redação e leitura da Bíblia, a apresentação do evangelho, a conversão, a igreja, a conduta – tudo isso é influenciado pela cultura. É essencial, portanto, que todas as igrejas contextualizem o Evangelho a fim de partilharem-no eficazmente em sua própria cultura. Para essa tarefa de evangelização, todos nós conhecemos a urgente necessidade do ministério do Espírito Santo. Ele é o Espírito da verdade, que pode ensinar a toda a igreja como se relacionar com a cultura que a envolve. Ele é também o Espírito do amor, e o amor é “a linguagem que toda cultura humana compreende. Que o Senhor nos encha, pois, com seu Espírito! 

Ao contrário de certas tradições liberais, que buscavam, com uma pretensa objetividade, “desmitificar” a Bíblia, estudá-la como um cadáver em uma mesa de legista, com uma leitura racionalista, submetendo-a radicalmente às variáveis culturais, relativizando os seus ensinos (ou, por outro lado, do literalismo estático dos fundamentalistas), os eruditos evangélicos do movimento de Lausanne, embora peritos nas Ciências Sociais, se aproximavam do texto da Escritura com respeito devido à Palavra de Deus, buscando compreender os fatores culturais para melhor entender e seguir as prescrições do texto, e, em um ato de espiritualidade e fé, apelando para a iluminação do Espírito Santo. Foi essa motivação e essa abordagem que persegui, com sinceridade e humildade, em meus próprios trabalhos sobre a responsabilidade social e política da Igreja, e sobre a sexualidade, embora nem sempre compreendido em um contexto polarizado.

4. MISSÃO E CULTURA: TEXTO DE UMA COLETÂNEA

O acervo teológico do Congresso de Lausanne, e dos seus desdobramentos, está muito bem representado pelo novo livro publicado por Edições Vida Nova: Perspectivas no Movimento Cristão Mundial   – coletânea de textos de autores nacionais e estrangeiros explorando as perspectivas bíblica, histórica, cultural e estratégica no Movimento de Evangelização Mundial(São Paulo, 2009), tendo como editores: Ralph D. Winter, Steven C Hawthorne e Kevin D. Bradford, com a colaboração de cerca de cem autores nacionais e estrangeiros. Fiquei responsável pelo capítulo 69: “Missão e cultura: pecado de conservadores e liberais” (p. 495-497).

Meu ponto de partida é a encarnação de Jesus Cristo e sua plena humanidade, bem como a sua identificação com a cultura do seu tempo e lugar, em tudo, menos no pecado. Destaco, também, o judeu Pedro e o tricultural Paulo, e a simultaneidade entre expansão missionária e inculturação. Os ramos da Igreja nos primeiros séculos revelam suas inserções culturais: assírios, sírios, armênios, coptas, bizantinos, eslavos e latinos. O mesmo acontecerá com a Reforma Protestante e sua inserção na Inglaterra, na Alemanha e países escandinavos, na Suíça, Holanda e Escócia, com faces culturais diferenciadas.
Aponto para a escatologia, quando, na Nova Terra, estarão diante do Cordeiro uma diversidade de tribos, povos, línguas e nações.

Aponto para a necessidade de os cristãos brasileiros não romperem com a sua cultura nacional e regional, e para a impossibilidade de se criar uma “cultura cristã brasileira”. Expresso meu desconforto com a polarização contemporânea entre, de um lado, os conservadores católico-romanos e protestantes que obedeceram à Grande Comissão, porém, muitas vezes, misturando o Evangelho com as culturas dos missionários, destruindo as culturas locais; e, do outro, liberais, que têm denunciado a insensibilidade cultural e o etnicídio, mas, em seu universalismo, associam qualquer evangelização com “imperialismo cultural”, desobedecem a Grande Comissão, e pedem um fim das missões mundiais.

Reafirmo dois princípios fundamentais: 

1. O cristianismo é uma religião de destinação universal. Advogar o contrário seria negar a identidade da Igreja e a sua história;

2. Por ser uma religião universal, o cristianismo não pode ser identificado com nenhuma cultura, não podendo promover ou destruir culturas.
No texto, afirmo: 

Os teólogos liberais ferem a teologia e a filosofia cristã ao advogar o fim das missões e a ausência do pecado (“bons selvagens”) nas culturas, movidos por um sentimento de culpa e por uma carência de fé. Os teólogos conservadores ferem a História e a Antropologia com sua atitude desrespeitosa.

Em termos éticos, os liberais negam a existência de valores revelados de validade universal, enquanto os conservadores atrelam valores a modelos, confundindo essência com acidente. Sendo os valores e princípios (ação do Espírito Santo) revelados, e os modelos, construções culturais e históricas, o equívoco dessa reiterada, insistente (e desastrosa) identificação terá de ser superado para que cesse o imperialismo cultural na tarefa evangelizadora.

Expresso minha discordância com as expressões de isolacionismo cultural protestante, a necessidade de pontes para a cultura e o papel transformador do Evangelho por dentro da cultura, conscientes dos riscos do martírio no tencionar com aspectos negativos da cultura, e para o fato de que as leituras sobre as culturas são permeadas pelas ideologias, dentro do clássico princípio que “as ideologias dominantes são sempre as ideologias das classes dominantes”, o que inclui a domesticação dos cristãos pelo neo-hedonismo consumista e a cooptação pelos poderes políticos.


Dom. Robinson Cavalcanti

 

(Segunda pate na próxima publicação )

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O MEP - MOVIMENTO EVANGÉLICO PROGRESSISTAS e a IAOB - IGREJA ANGLICANA ORTODOXA NO BRASIL no estado de Alagoas juntos na construção do FÓRUM PERMANENTE DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA



Em missão pela a IAOB - Igreja Anglicana Ortodoxa no Brasil e o MEP - Movimento Evangélico Progressista no estado de Alagoas. Juntos estamos trabalhando, de forma pioneira, para a formação do FÓRUM PERMANENTE DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA.

Agradeço a fundamental parceria da Federação Zeladora das Religiões de Matrizes - Africana de Alagoas - FRETAB, na pessoa de seu Presidente, Paulo Silva, sacerdote umbandista. Estamos abertos ao diálogo e conclamamos as religiões à unirem-se a nós nesse projeto de grande relevância no combate a intolerância religiosa em Alagoas e no Brasil.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O QUE É O MEP - MOVIMENTO EVANGÉLICO PROGRESSISTA?


O Movimento Evangélico Progressista é uma associação civil, sem fins lucrativos, de Cristãos Evangélicos comprometidos com um projeto de ação político-social da perspectiva da ética cristã, com finalidade de:
Mobilizar membros de igrejas evangélicas para defender os princípios do Evangelho na política e zelar para que sejam respeitados;
Pronunciar-se e posicionar-se em nome de seus membros sobre fatos relevantes da vida nacional, exercendo deste modo ação pastoral, reflexão teológica, diaconia e ministério profético, denunciando iniquidades sociais, violações aos direitos humanos e ao meio ambiente;
Contribuir ativamente para viabilizar as demandas sociais de que o país necessita;
Contribuir para a formação integral de seus membros e, por instrumentalidade destes, das organizações de que façam parte, visando sua conscientização e capacitação para o exercício da plena cidadania e da missão integral da Igreja;
Busca da unidade da igreja da família evangélica e cristã juntamente com outras organizações em torno desses ideais;
Articular e organizar em nível nacional, um movimento de conscientização e ação visando a participação plena dos evangélicos na vida política do país.

O MEP tem em cada palavra de seu nome um importante significado:
MOVIMENTO, é porque é uma associação informal e subpartidária. O MEP não é vinculado a partido político, não é subordinado a nenhuma organização religiosa e não se filia a nenhuma corrente ideológica;
EVANGÉLICO porque é conservador e ortodoxo na teologia, afirmando a autoridade e a importância da evangelização, conversão e oração. O MEP busca os princípios de Deus, na Bíblia, para nortear as suas ações e ajudar a cada cristão a ser de fato luz, neste mundo, e sal, nesta terra;
PROGRESSISTA, porque é comprometido com mudanças sociais. O MEP trabalha pela justiça em defesa dos mais carentes, pela integridade cristã e pelo rigor ético. Admitimos que esse trabalho, exige de nós um esforço de transformação, que nos afasta de alguns grupos e nos aproxima de outros. Também nos leva a confrontar os políticos que se dizem evangélicos, mas votam contra a vontade de Deus, prejudicando a toda sociedade por razões quaisquer.
Enfim, o MEP é um espaço de debate, capacitação, articulação de evangélicos desejosos de transformação da sociedade brasileira.

Orando e trabalhando pela conscientização bíblico político do povo evangélico o sonho do MEP éVER O DIREITO BROTAR COMO ÁGUA E A JUSTIÇA CORRER COM O RIO QUE NÃO SECA.
(Amós 5:24)

CARTA DE BETIM: DOCUMENTO IMPORTANTE DO MEP.


Graça e paz da parte D'Aquele que era, e que é, e que há de vir, "por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça".
O movimento Evangélico Progressista - MEP - reunido em Betim/MG nos dias 03 a 06 de julho de 1997, em seu III Encontro Nacional, com a participação de cristãos de vários estados da federação, evangélicos de diversas denominações afirmamos nosso princípio de fé e compromisso social. Somos militantes de movimentos populares que aprenderam a endurecer sem perder a ternura; pastores conduzindo os seus rebanhos entre outros rebanhos conduzidos por outros pastores; sindicalistas que descobriram ao sol da experiência que quem não sabe radicalizar jamais saberá a hora de dialogar. Políticos que sabem que a realidade política só pode ser transformada por quem dela participa. Temos entre nós irmãos trabalhando para provar que é possível robustecer a fé com os recursos da ciência. Somos crentes no Senhor Jesus Cristo compartilhando a difícil tarefa de levar a igreja a ter uma visão e prática política comprometidas com os interesses do povo.
1)RECONHECEMOS:
I - Deus é o princípio e o fim de todas as coisas, pois pr Ele e para Ele tudo foi criado e subsiste;
II - A vida dos homens e dos povos não tem se não for vivida segundo o propósito de Deus, no poder de Sua Graça, sob o juízo constante de sua Palavra e no pleno reconhecimento de Sua soberania;
III - Criados em Cristo, à imagem e semelhança de Deus, todos os seres humanos são fundamentalmente iguais e essa igualdade deve ser manifesta no respeito aos direitos e às oportunidades para todos;
IV - Todas as formas de opressão religiosa, política e de expressão, são igualmente odiosas e contrárias à fé cristã. 
V - Nenhuma ordem social é inteiramente cristã. Aproxima-se mais desse ideal aquela em quem os direitos e deveres dos cidadãos forem mantidos em justo equilíbrio, em que for garantido a todos o pleno desenvolvimento de suas potencialidades para a realização do bem comum;

2) NOSSA IDENTIDADE:
Nossa inserção declarada e assumida, em voto perene, na tradição cristã nos habilita à herança da promessa feita a Abraão, e nos atribui as responsabilidades correspondentes, de construir uma grande nação onde sejam benditas todas as famílias e todo ser humano tenha os meios e oportunidades de ser uma benção. Essas responsabilidades devem ser assumidas nas situações concretas em que vivemos. Assim, nosso dever:
I - Denunciar, por atos e palavras, como falso e perigoso o sistema que consagra os valores econômicos como valor maior a ser buscado pelo ser humano e convalida todos os meios de se alcançara prosperidade, excluindo nações inteiras à vida e à liberdade;
II - Engajar-nos, a qualquer preço, pela nossa vida e testemunho, na luta para que a Declaração Universal dos Direitos Humanos seja praticada porque reconhecida como providência divina para que os homens vivam em união;
III - Participar, ativa e intercessoriamente, da luta pela preservação dos meios naturais, reconhecendo na degradação da natureza uma agressão à obra divina;
IV - Reconhecer no trabalho, manual ou intelectual, a possibilidade humana de participação na obra criadora de Deus, que, como tal, deve ter preservadas as oportunidades de seu exercício em condições de justiça e dignidade.
3)NOSSO COMPROMISSO
Identificar no agudo sofrimento dos injustiçados, nos gemidos dos maltratados e no clamor dos excluídos a Ordem divina e, inequivocamente, clara para que sejamos sinais de esperança entre aqueles que, com destemor e coragem, lutam: 
- contra qualquer forma de desrespeito aos direitos humanos;

- contra sistema econômico que aprofunda, cada vez mais, o abismo que separa palácios e barracos, miséria degradante e exibição acintosa de opulência, ao legitimar os meios de se obter lucros abundantes em detrimento de oportunidades de emprego;
- contra discursos que, por equívoco ou desonestidade, vem sistematicamente destruindo todas as noções de patriotismo ao disseminar com diabólica insistência a idéia de que vale a pena destruir ecossistemas inteiros, jazidas cujo valor para o futuro da nação é incalculável, tecnologias acumuladas durante décadas, para transformar tudo em dinheiro que costuma escoar-se pelos ralos da corrupção;
- a favor de uma reforma agrária tão ampla e tão completa quanto o exigem a vastidão de nosso país e as dimensões de nossa degradante miséria, para que a terra cumpra o propósito divino segundo o qual o homem deve tirar da terra o seu sustento;
- a favor da participação cada vez maior do cidadão, nesta condição, na gestão dos bens sociais a fim de que se destrua a absurda afirmação tácita de que alguns seres humanos foram feitos para mandar e a maioria para obedecer, e outros ainda para exclusão, vivendo aleijados do processo, alimentando-se das migalhas que caem das mesas dos primeiros.
Betim, 06 de julho de 1997. 
Movimento Evangélico Progressista - MEP

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ASSALTO COLETIVO


ASSALTO COLETIVO: É um verdadeiro assalto o aumento das passagens, Anel A R$ 3,20 e o Anel B R$ 4, 40. Não podemos aceitar mais esse absurdo, vamos protestar, nao fique ai parado, você também estar sendo assaltado.